Palavras presas na garganta...
E misturavam lágrimas à chuva.
O asfalto derretiam suas esperanças
em passos tão largos, tão duros,
quanto os próprios sentimentos que julgava.
- Já a alma remoía vontades reprimidas
dos verbos nunca conjugados a quem deveria...
Eram amargas as gotas que caiam...
Molhavam o corpo, abraçava os desejos.
E Sonhava entre toques imaginários...
Fazia promessas em pura loucura
e jurava ser tudo a quem, ali, não ouvia!
Palavras presas na garganta...
Queria os braços de quem no momento não podia,
e que em outros acalantava suaves versos
de escrita e cantos como quem nina,
ou provocava com olhares semi puros e lascivos.
Eram amargas as lágrimas que caiam...
E por um relance via sombras que dançavam
entre cigarros e cafés, desejos e estados,
zombando de encontros e ansiando por outros
em segredo de uma frase ainda não dita.
Como quase estava acostumando, como mantra,
sua mente repetia esse sentimento. As estrelas já haviam se deitado há algumas
horas e na sala descansavam garrafas de vinhos baratos, iluminados palidamente
pelo sol nublado de luz semi cinza. Ainda rolava na cama com uma preguiça
matinal de quem há pouco passou a noite com a falta de coragem para dizer o que
talvez não devesse, sufocando-se em palavras engasgadas e nunca pronunciadas às
pessoas certas.
Seu olhar viajava por entre as paredes e
janela do quarto, voltava no tempo, e quase sem querer, como uma rima de poetas
pós-modernos, tropeçou na vontade de braços alegóricos de um passado que ainda
teima em não continuar calado e esquecido. Gradativamente o peito apertava,
como num lance de desejo de sumir daquele corpo e ir para outro que tivesse um
pouco mais de sorte, fazendo-o lembrar de cada mulher que, recentemente, entrara
pela porta da sala e ao contrário do que queriam ver, encontrava um homem de
corpo imperfeito, barba por fazer, mente evasiva, olhar distante e coração como
quase já estava acostumando... Vazio.
E tal sentimento não amenizava, não
importando as companhias, que diariamente, quase que como um rito de passagem
de noite, acompanhava em caminhada por entre as os prédios da cidade, como quem
vende o próprio interesse da vida e corpo, para passar algum momento sendo
apenas autêntico em si. Se sentia, como já dito, vazio de algo que não se
preenche tão facilmente e que tampouco é encontrado nos entrelaços em lençóis
semi sujos de corpos de outrora e cheiros já evaporados pelo tempo que insiste
em passar tão rapidamente quanto é possível voar.
A música no quarto ainda tocava em francês repetidamente,
um único trecho. Sua vontade era de palavras tão meramente rotas, quanto o
sorriso amarelo e espírito cansado, sem brilho, como se pode imaginar entre a
razão e os sentimentos. Em sua visão ressaltava a imagem virtual e inebriante daquela
quem mais desejava e que mesmo por míseros segundos, fazia sonhar em novos
planos, ainda que em brincadeiras. Mas “a vida é o que acontece enquanto
fazemos planos”... E o sentimento voltava a se repetir logo em seguida.
- Vazio... No mais amplo significado da
palavra...
Os olhos pesavam em rubor de um dia mal
dormido e das letras desgastadas em palavras sempre repetidas nos versos tão
pobres quanto às rimas dos poetas pós-modernos. Parecia marionete de seu
próprio ser, sem vida, vontade, e para variar, apenas funcionava no modo
automático de sorriso no rosto e atividades mecânicas da labuta diária. Sentia-se,
talvez, um romântico fora de época, apesar do comportamento torpe, e suas
lembranças caminhavam num trajeto tão repleto de curvas como as do corpo da
mulher que, em conversava sobre problemas e relacionamentos, pedia opiniões
deitada no sofá e fazia transcender - inesperadamente - algo que de alguma
forma, ela ou aquele momento, parecia preencher um espaço escavado pela vontade
de apagar as memórias que um dia fora apenas presentes, não no sentido de
tempo, mas que, agora, corrompia as vontades e dividia seu olhar entre o hoje e
o nunca mais.