domingo, 26 de outubro de 2014

Morena de samba






Arde qual morena
que em mesa como cerveja
traz o gosto amargo de desejo,
pela vontade de não esperar,
enquanto de toques em samba
requebras as cadências
de um olhar que abrasa,
toques pelas coxas as mãos
que sobem às palavras...

Arde qual morena
que de pele alva
traz o gozo no olhar
provocante quanto as ondas
de um oceano ainda distante,
mas viajado como saveiros
de brancas velas e tenro
pelas curvas que minhas mãos
insistem em não largar...

Arde qual morena
que de suave gesto
cantarola como flauta
em choro de gemidos,
de lençóis bagunçados
da noite que insiste em despedir-se
ainda tão antes da hora
e fora dos movimentos de pernas...

Arde qual morena
que do malandro já sem o chapéu
embriaga-se do prazer,
do capricho, de uma provocação,
da lascívia que é teu corpo
em tons rubros do dedilhar
das cordas de sua cintura
sem música tocar
se não, a pura excitação de teu ser...



terça-feira, 2 de setembro de 2014

Lamentos




Era como de vermelha,
saia rodada pelo corpo
que apesar do desejo,
ecoavam-se em palavras rudes...

As mãos que antes ardentes,
agora distantes. Tal qual tempo
que perdia em orgulho de fitar
imagens recriadas pelas sombras.

Era como de vermelha,
que a vontade transcendeu a voz,
rodeada como que flores
em desenhos vestidos como luz,

enquanto sentia de leve
os lábios de palavras sujas
limparem em seu corpo
os desagrados de enganos cometidos.

Era como de vermelha
que a pele se tornava aos toques
em carinhos tão virulentos
quanto os pedidos de mais,

e mais velocidade
de apaziguarem-se em silêncio
e gemidos ofegantes
do gozo pós acertos.

Lúcio Vérnon


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Cigano




É assim como vinho...
Torpe e ébrio,
torto quanto passo,
que de olhar encara-te
futuro antes de um tempo...

Rabisca cabelos
com espalmadas mãos,
fortes como estradas,
e que percorre tua pele
antes mesmo do caminhar.

É assim que de real azul,
de lábios que sorriem,
encontram-te como dança
enquanto tudo são cartas
de horizontais entrelaces...

Histórias que se cruzam
em palmas e marcas produzidas
com sonoras mordidas em gozo
apalavradas e concedidas pelo desejo
de apenas caminhar novos rumos...

É assim que de vegetal verde,
seduz como molduras,
adornadas de suave mistério,
personalidades de noites
há anos já passadas...

De vidas já cruzadas,
como quem conhece
vários corpos em camas deitados
entre velas e destinos,
sorrisos e outras paixões...

Lúcio Vérnon


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Íntimo




Aproveita-se do ponto
que profundamente
estremece a pele
de prazeres úmidos,

como quem sente
o próprio corpo
tão frenético
quanto a noite

que em silêncio
estronda-se o grito,
abafado pelo beijo
e revelado pela mão

indelicada,
que percorre áspera
curvas suaves,
arrepiando o olhar

e tocando-lhes do pescoço,
aos seios de teus sussurros,
enquanto maliciosamente
eleva-os dos versos à boca,

pronunciando personalidades
de tão parecido reflexo
como só a intimidade mostra

entre o suar de lençóis.
Lúcio Vérnon


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Volúpia




E é por medo do som,
que em silêncio,
olhos escorregam a pele
de macia pétala,

junto as mãos sorrateiras
que penetram espaços
de gemidos tenros
e sorrisos loucos...

É por tempo que corre
sem minuto passar,
que num sussurro
ardem as palavras

em beijos e quadris
ao corpo molhado
de líquido prazer,
e suado de rubro tocar...

É por desejo de estar,
que em velocidade plástica
recorre aos dedos
que na boca tomam sentido

de verbos trovados,
sobre rimas de ecos ouriçados
em dedos que apertam as costas
e arranham a madrugada.

Lúcio vérnon

domingo, 23 de março de 2014

Chuva e Palavras




Palavras presas na garganta...
E misturavam lágrimas à chuva.

O asfalto derretiam suas esperanças
em passos tão largos, tão duros,
quanto os próprios sentimentos que julgava.
- Já a alma remoía vontades reprimidas
dos verbos nunca conjugados a quem deveria...

Eram amargas as gotas que caiam...
Molhavam o corpo, abraçava os desejos.
E Sonhava entre toques imaginários...
Fazia promessas em pura loucura
e jurava ser tudo a quem, ali, não ouvia!

Palavras presas na garganta...
Queria os braços de quem no momento não podia,
e que em outros acalantava suaves versos
de escrita e cantos como quem nina,
ou provocava com olhares semi puros e lascivos.

Eram amargas as lágrimas que caiam...
E por um relance via sombras que dançavam
entre cigarros e cafés, desejos e estados,
zombando de encontros e ansiando por outros
em segredo de uma frase ainda não dita.

Lúcio Vérnon


quinta-feira, 13 de março de 2014

Memórias e Fantasmas




Sussurros e névoas...
Silhuetas dançam na brisa
e procuram o caminho
pelos olhos Castanhos que ainda olham...

São soleiras de expressões antigas,
de mãos que percorrem os traços
acariciando as tais cicatrizes
e as rosas enrubescidas das costas...

Ouriçam-se os pêlos,
suam sonoramente
e desmantelam-se em puro silêncio
de um momento tão carne...

... Quanto os pedaços de alma
espalhadas, perdidas pela sala
e pelos versos Boêmios
de um tempo não vivente.

Sussurros e névoas...
Esvaem-se pelos cabelos vermelhos
e janelas de grades firmes,
entre o sol e o anoitecer

De um corpo ainda tão sonhado
com suas possíveis imperfeições
e histórias arranhadas por outras mãos,
mas ainda é predominantemente marcada

Pelo ardor da pele áspera na memória
e momentos que ecoam e assombram
a antiga casa de paredes amarelas
e que há um tempo já não os recebem.

Lúcio Vérnon



sexta-feira, 7 de março de 2014

Vazio




Vazio...
Como quase estava acostumando, como mantra, sua mente repetia esse sentimento. As estrelas já haviam se deitado há algumas horas e na sala descansavam garrafas de vinhos baratos, iluminados palidamente pelo sol nublado de luz semi cinza. Ainda rolava na cama com uma preguiça matinal de quem há pouco passou a noite com a falta de coragem para dizer o que talvez não devesse, sufocando-se em palavras engasgadas e nunca pronunciadas às pessoas certas.

Seu olhar viajava por entre as paredes e janela do quarto, voltava no tempo, e quase sem querer, como uma rima de poetas pós-modernos, tropeçou na vontade de braços alegóricos de um passado que ainda teima em não continuar calado e esquecido. Gradativamente o peito apertava, como num lance de desejo de sumir daquele corpo e ir para outro que tivesse um pouco mais de sorte, fazendo-o lembrar de cada mulher que, recentemente, entrara pela porta da sala e ao contrário do que queriam ver, encontrava um homem de corpo imperfeito, barba por fazer, mente evasiva, olhar distante e coração como quase já estava acostumando... Vazio.

E tal sentimento não amenizava, não importando as companhias, que diariamente, quase que como um rito de passagem de noite, acompanhava em caminhada por entre as os prédios da cidade, como quem vende o próprio interesse da vida e corpo, para passar algum momento sendo apenas autêntico em si. Se sentia, como já dito, vazio de algo que não se preenche tão facilmente e que tampouco é encontrado nos entrelaços em lençóis semi sujos de corpos de outrora e cheiros já evaporados pelo tempo que insiste em passar tão rapidamente quanto é possível voar.

A música no quarto ainda tocava em francês repetidamente, um único trecho. Sua vontade era de palavras tão meramente rotas, quanto o sorriso amarelo e espírito cansado, sem brilho, como se pode imaginar entre a razão e os sentimentos. Em sua visão ressaltava a imagem virtual e inebriante daquela quem mais desejava e que mesmo por míseros segundos, fazia sonhar em novos planos, ainda que em brincadeiras. Mas “a vida é o que acontece enquanto fazemos planos”... E o sentimento voltava a se repetir logo em seguida.

- Vazio... No mais amplo significado da palavra...

Os olhos pesavam em rubor de um dia mal dormido e das letras desgastadas em palavras sempre repetidas nos versos tão pobres quanto às rimas dos poetas pós-modernos. Parecia marionete de seu próprio ser, sem vida, vontade, e para variar, apenas funcionava no modo automático de sorriso no rosto e atividades mecânicas da labuta diária. Sentia-se, talvez, um romântico fora de época, apesar do comportamento torpe, e suas lembranças caminhavam num trajeto tão repleto de curvas como as do corpo da mulher que, em conversava sobre problemas e relacionamentos, pedia opiniões deitada no sofá e fazia transcender - inesperadamente - algo que de alguma forma, ela ou aquele momento, parecia preencher um espaço escavado pela vontade de apagar as memórias que um dia fora apenas presentes, não no sentido de tempo, mas que, agora, corrompia as vontades e dividia seu olhar entre o hoje e o nunca mais.

Lúcio Vérnon


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Conto de um "Poemio"




O sol ainda nem havia começado a brilhar...
Num canto da memória, daquele lugar em que se deixam os sentimentos esquecidos, pegando poeira e teias de aranha, veio à lembrança de momentos inteiros em que durante a noite entre sorrisos e conversas, intimidades e leves carícias - que contornavam os corpos e ouriçavam os desejos - surgiam, como afago de pura saudade, dias infindáveis de arrependimentos por erros tão infantis quanto à própria idade, que julgava até então ser de grande conhecimento para a construção de seu próprio ego, mas que num relance de espelho viu-se cair em cacos de orgulhos tolos e necessidades de reconstruir-se.
    
O sol ainda nem havia começado a brilhar... E no celular uma mensagem não lida: "precisamos conversar..." O que será que tinha feito de errado? Sabia apenas que ultimamente deixara a vergonha de lado e, como há muito não fazia, voltara a se abrir de forma sincera sobre o que passavam em sua mente, seus sentimentos, e talvez, comportamentos. Acreditava - ter retirado aquela armadura de ferro batido e espinhosa que costumava assustar as pessoas com uma simples palavra de olhar mais duro.

A cabeça era um redemoinho de ideias tempestuosas de insegurança, medo da perda de qualquer que seja o motivo da conversa e, sim, raiva. Raiva por julgar alguma culpa de erro, raiva por se sentir frágil à sua falibilidade, raiva pelo simples medo. A caneta ainda tremia entre os dedos em seu papel amarelado de versos indiscretos sobre um íntimo, que em bem da verdade, apenas o autor entendia sobre o quê as letras se aventuravam a contar, apesar da crença inabalável de que estava sendo o suficientemente claro.

Os versos traziam um poema para o "Além da Matéria", espaço criado para seus desabafos, e versos como que de bêbados que dormitavam entre a razão de segundos e a loucura de um cigarro que se vai numa só tragada:

(...) Faz silêncio agora... A rede balança.
É pleno o ser nos braços da memória...
E toco teu corpo em desejos impuros,
o vento sopra... Teus lábios agora em mim.

Já é tarde no desejo. Ainda não há tempo...
- Tempo é mero acaso de segundos não contados. (...)

- "só se percebe a felicidade, quando perdemos!"
De alguma forma veio essa frase em seus ouvidos, como que soprada pela brisa de voz doce, em meio à penumbra e sussurros de um prazer longínquo, preso na lembrança de uma cama de casal alugada junto ao apartamento e vários bibelôs numa cômoda do quarto. As mãos pararam de escrever. Ainda não era hora, mas a garganta pedia café... Já há um tempo não era dono de suas próprias vontades, e talvez por isso tenha ido tão longe contra si próprio.

O sol ainda nem havia começado a brilhar, e numa ou outra tragada do café, além da vontade de um cigarro que nunca fumou, vinha o desejo de estar com seu passado mais próximo, voltar no tempo, criar um novo presente, onde talvez não tivesse deixado sua terra, ou que de preferência não tivesse perdido as chances com quem no início pensava ser apenas uma opção. - Erro primordial dos Homens, a falta de sinceridade consigo próprio.

Não, o tempo passava, mas o sol ainda nem havia começado a brilhar... E enquanto isso continuava pensando na sua escrita em terceira pessoa, já que felizmente ainda não havia uma quarta para se arrepender. O som em algum lugar lembravam músicas de filmes noir, mas que profundamente marcava seu espírito de uma agonia pela vontade de gritar e pedir perdão, espernear e permitir que as lágrimas escorressem. Na tela de seu computador, soterrado de papéis, brilhava no canto direito algumas pessoas importantes... Talvez fosse melhor começar dali, mesmo que numa sombra, blindado pela frieza de uma comunicação à distância. Entretanto será que sua presença seria aceita se resolvesse falar pessoalmente?

As mãos trepidavam como de uma criança em frente ao primeiro medo, já as palavras, vacilantes como os sons de metais ao vento e tão sutis quanto os que não sabem escrever... Antes de enviar, pensou inicialmente em mandar um poema, porém no fundo, sabia que não ia ser compreendido e possivelmente não saberia explicar o motivo, apesar de ser bem simples, fugir da realidade. Era sua Ex, Ela o conhecia bem, e por tantos erros, com certeza iria novamente ignorar a presença ou talvez se ofendesse ainda mais com a falta de sinceridade ou pessoalidade em suas palavras. Seria muito pior... (Enter).

No canto do quarto, bagunçado quanto à própria existência, pegou uma garrafa de vinho. Sempre que tem medo recorre a ela, para dar coragem, como um amuleto ébrio. Esperava uma resposta... Seu coração palpitava, sabia que no fundo ainda a amava, mesmo com tantos erros de tantos lados e tão justificáveis, mas a essa altura da noite de uma existência já era bem tarde.

Aproveitando do computador, publicou um novo poema no "Além da Matéria"... Seu layout já estava ultrapassado, como sua própria escrita e o espírito da página. No canto da janela, piscou a resposta: "Quero que também seja feliz"... A cabeça fez um rodopio entre o redemoinho de ideias, e mais do que nunca sabia que havia perdido tudo que desejara, era hora de virar a página, quem sabe agora ser o escritor que desejava criar contos ou "Poemias", para que finalmente um dia se torne quem julgava ser para a quem tanto amou.


Lúcio Vérnon


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Coração de Lata



Coração de lata,
frágil quanto cristal.
Sorrisos de passado tênue
e tão presente como o futuro

Que de tão próximo
esvai-se por entre os dedos
sem caminhos, Sem histórias...
Ou seria das histórias, teu sentido?

Coração de lata...
o tempo não retorna,
Mas sempre tem seu novo fim,
tal qual a própria vontade de ser.

Qual tua vontade,
que enquanto tudo é quieto
pranteia em silêncio,
entre soluços tão sonoros?

Coração de lata...
Sofre apenas os que não são humanos,
tais como os perfeitos
que não aprenderam errar.

Lúcio Vérnon


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Menino




Para onde foi
o menino franzino de sorriso largo
que em largo tempo se sentava á ponte
e como tantos, sonhava...?

O que seria quando crescesse?
... Jogador de futebol,
Lutador, desenhista ou Astronauta?
Seria homem? Seria eu?

Para onde foram todas as cores,
Que em desenhos, contava histórias
sobre dias infindos
e tardes em cafés de avós...?

Teria então vislumbrado o futuro?
Seria humano na mais profunda essência?
O que seria quando crescesse?
presidente, cantor? Seria você?

Lúcio Vérnon


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Noturno




É de noite que em sussurros
desejo verbalizar tais sentimentos,
intensos quanto tempestades
e silenciosos quão própria pele de segredos.

É de noite que ao ouvir tua voz,
ouriço os anseios e saudades,
que como luva cobre o tato
angustiando a vontade dos toques.

É de noite, que enquanto sonho,
trepido o corpo em volúpias e gozo
de querer sentir teu perfume próprio
ao som das eternas correntes das águas.

Lúcio Vérnon