sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Poema antigo...

Diálogo

Caneta

Escreve cansada mão, Que nunca se esquece Das letras que saem em vão Para poemas que sempre tece.

Escreve a mão trepida, Caminhos em versos avessos, Frase insensata, talvez corrompida Por dores da alma e dos ossos.

Tinteiro

Escorre a tinta no papel pobre Manchando o peito sem uma gota, Criando sentimentos que o cobre, Gastando a tinta, mas quem importa? Escorre a tinta em amarelado papel, Discorre fatos de tragédia já falada, Relembra gostos do mel e do fel... E mostra o sangue do coração à facada.

Poeta

Calem-te loucos de mau agouro! Deixem-me sentir e escrever... Deixem-me no capitel louro Descansar a ilusão do meu ver...

Calem-te companheiros loucos! Deixem-me chorar o pranto antigo, Que também são teus gritos roucos! Do amor que se tornou castigo...

Lúcio Vérnon®

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

III Poema dos Poetas

Poetas III

Poetas não falam... Pena... Poetas sentem, talvez sofrem... Poetas são só poetas apenas... Poetas descansam a fala de tudo...

E quando não se sabe realizar? E quando só se aprende errando?

Poetas só sabem poetar... Pena... Poetas só têm as letras tortas... Poetas só sabem observar, escrever... Poetas negam a existência do fato...

E quando julgam errado? E quando não julgam...?

Poetas só sabem realmente poetar, Poetas não sabem o que são! Poetas são! E fogem sempre! Poetas são amaldiçoados seres...

E quando tenta parar? E quando não sabe como?

Poetas são só problemas... Pena... Dão trabalho, são inconstantes, cientes... Poetas... Poetas nada são... Sombra esquecida, luz tragada...

Lúcio Vérnon®

Minha Alma Medrosa

Minha Alma Medrosa

Minha alma hoje murmura apelos, Pressente o momento sem vir... Minha alma chora quieta, calada, Ouve exatamente o aquilo que temia.

Minha alma hoje murmura o silêncio, Sente o real, os acontecimentos por vir. Deseja acordar e viver, e realizar... Chora por não ser, por não poder ser.

Minha alma triste hoje, cala-se... Teme, treme, ri, canta, recai em prantos, Queria e não sabe como re-dizer... A vontade é de sempre ser teu.

Minha alma calada ouvinte, chora novamente... Teme e escreve rimas pobres em poemas, Enrola o tempo sentado quieto, solitário, Percebe que aos poucos é só alma calada.

Lúcio Vérnon®

Carpete Vermelho

Carpete Vermelho

Reflexão, tristeza, justiça? Conversas na sala, silêncio às vezes? Um moleque sentado quieto; pentelho? Fixo olhar ao carpete, carpete vermelho!

Escritas, pensamentos, poemas? Ecoam outras tristezas, outras pessoas? Reflexo que passa nas sobras do espelho! Menino sentado no carpete vermelho!

Medo no corpo, corpo caído, fraco? No quarto quieto medo do sono, da noite? Formas, sombras, sonho, pesadelos? Pessoas sentadas ao carpete vermelho?!

Estrelas no céu, lua na mente? Passado já distante, perdido no tempo; Vontades esguias dos arrepiados pêlos? Solidão e frieza no carpete vermelho...

Lúcio Vérnon®

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Noturnas Carícias

NOTURNAS CARÍCIAS

"Lá fora a lua intensa

brilha com uma luz plena."

Lúcio Vérnon

As nébulas desta noite Cercam como a um filho; Protege, acalanta, mima. Guia como um farol a um navio; Conduz a locais, de todo, desconhecidos. Leva a um mundo utópico, ou real? É doce as carícias da noite, É suave se perder em encantos Do puro, simples amor noturno. É sentir-se bem, sem bem saber. Uma veludosa brisa ousada, Sopra inerte um trepido corpo De alma já gélida e soturna; Como se quisesse com tais carícias Acordar algo há muito já fenecido Por impossibilidades vitais da vida; por impedimentos e outras formas. É doce as carícias da noite; Entretanto são já saudosas desde o início. É suave se perder em encantos noturnos, Mas é perdido onde crepita tais sentimentos.

LÚCIO VÉRNON GOIÂNIA- 126.05.06 ®

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Soldado

SOLDADO Na parede encostado, cigarro no bolso, Música nos ouvidos, vento no rosto... Ninguém ao redor, pessoas que passam, Pessoas mudas, gritando o que fazer... Chove lá fora, a água fria na jaqueta, Corpo que molha indo em nenhum lugar, O olhar para o vazio de todos que não entendem. E amar é doce; odiar tão prazeroso quanto amar. O passado não importa, o presente não existe. O tempo somente passa quando se deixa passar, É doce viver... Criança venha ver, (esqueça tudo.) Amar é doce... Criança venha ver (esqueça a luta.) Na parede encostado, cigarro aceso... Lembranças na cabeça, fumaça no ar. Todos ao redor, sozinho enquanto ali. Sozinho onde quer que vá, calado e tão falante. Sorriso diferente, voz que não sai, olhar que não vê, Corpo molhado, suor da labuta, cansaço de lutar, Música que não canta, toques que não tocam... - Esqueça o lugar, e venha caminhar, a estrada é longa. O passado não importa, o futuro é presente, O tempo é a luz que não ilumina nenhum lugar. É doce viver... Criança, venha ver (esqueça tudo.) Amar é doce... Criança venha ver (esqueça a luta.) Lúcio Vernon® 15.02.2008 – Goiânia®

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Respostas


E quando tudo é silêncio, vem as respostas, 
E quando tudo é mero silêncio, pode-se ver claramente, 
Quando tudo e só silêncio, o grito de minha alma sabe a verdade, 
E o que pensar de tudo o que se parece quando nada é? 

Quando tudo é silêncio aparentemente, é possível escutar, 
E quando não há mais maneiras de se fazer silêncio? 
É hora de falar? As vezes o que falamos tem poder, 
mas nem sempre querer é poder... 

E poder se torna querer? 
E como dizer absolutamente tudo quieto? 
Quando tudo é silêncio, pode-se sonhar, talvez alcançar, 
Quando tudo é silêncio, percebe-se que em tudo há uma jornada, 

A jornada sempre começa em um caminho reto, mas para onde ir? 
O silêncio é só mero som de algo que quer ser dito, mas e daí? 
Quando tudo é silêncio pode-se brandir uma espada para a luta... 
Pode-se escrever um poema brandindo o sentimento para conquista... 

Pode-se apenas imaginar como seria o amanhã, após a caminhada... 
Pode-se enganar pela imaginação temporal de um real ou ilusão inexistente. 
Quando tudo é mero silêncio a música soa mais alto, e tudo é puro. 
Quando é só silêncio existente, se torna amante, amor, paixão, pensamentos. 

Quando é tudo silêncio, as coisas apenas são, e se deixa acontecer, sem força. 
E quando todo silêncio é sem força, pode-se escutar choros, tristes, alegres... 
Quando tudo é silêncio, os Deuses é só um, são só dois, são pagãos; 
O tempo é mero acaso quieto que se deixa passar num segundo não contado, 

A vida é apenas uma crença de um mundo feliz, e seria ilusão? 
Quando tudo é silêncio os homens são simplesmente imprevisíveis. 
Quando tudo é silêncio, as ruas se enchem de pessoas que dançam, 
Quando o silêncio é tudo que há, há pessoas a observar o resto e todos. 

Quando tudo é silêncio pode-se observar as estrelas melhor, o brilho é prata. 
Quando tudo é silêncio, pode-se enfeitiçar com o brilho das pessoas, o brilho é prata. 
Quando tudo é silêncio, talvez as coisas não são o que são... 

E quando o silêncio simplesmente é tudo, o que pensar das coisas que acontecem? 
Quando o silêncio é tudo, vem as resposta, mas quais são as perguntas? 
Quando tudo é silêncio, e as ruas ficam quietas, cuidado, com o brilho das estrelas.

Lúcio Vérnon® 12/02/2008, Goiânia.

escadaria

É hoje é mais uma Quinta que antecede a Sexta-Feira, hoje é só mais um dia que o sol nasceu amarelo, mas encoberto por nuvens cinza que logo se formará em gotas de chuva e cairá por sobre meu corpo como quem quisesse purificá-lo das aviltudes de pessoas, espíritos talvez, mau agouro quem sabe. Ah!... Hoje é só mais um dia onde a brisa brinca de embalar as folhinhas das árvores e das pequenas flores ao pé de um poste iluminado, é só mais um dia que a brisa faz o perfume exalar por sobre o pátio. É só mais um dia como qualquer outro, como qualquer outro dia é o meu dia de ficar só solitário, sentado em minha cadeira no quintal, brincando com a fumaça que sai de meu carrasco cigarro, é só mais um dia que meus cadernos recebem mais uma dose amarga de poemas meus, com todo um sentimentalismo extravagante de pobreza, de falta de companhia. Ah! É só mais um dia que fazendo as contas passa-se de uma semana que me vi no alto de uma escada desejando jogar-me ao azar de sobreviver ou a sorte de finalmente encontrar-me num plano onde finalmente possa eu ser feliz. Já faz uma semana, uma semana que na beira daquela escada sentei-me no último dos degraus, ascendi mais um de meus cigarros e sem pensar em nada, queria apenas sentir o gosto pesado da fumaça passando por minha boca, chegando até os pulmões e retornando em círculos pequenos, hora grandes e finos. Quase inaudível tocava na casa de um senhor que estava à janela, uma música: Miss Sarajevo, estava na parte em italiano, e comecei a imaginar todo o sofrimento de um pai que perdera seus filhos na guerra, olhava o rosto do senhor e via uma lágrima que rolava devagar, como quem soubesse o que eu sentia naquele momento, e o meu desejo; fitava-me e eu a ele, era como se pudesse ver o filho dele, era como se ele despedisse de mim. Ele entrou para algum dos cômodos da casa, fechei os olhos tentando me tranqüilizar, e agora só ouvia a música que se repetia e repetia, e repetia em uma oração espiritual para que não me jogasse, uma oração ao Deus para que tivesse pena de mim talvez.Olhos fechados, e ouvindo a música que repetia, agora também ouvia as ondas se quebrando no mar, estavam cálidas, parecia também sentir minha dor, os passos começaram a se intensificar, olhei, o senhor estava sentando-se ao meu lado com uma caixa antiga, com apenas números em sua frente. 1914 estava em preto com gotas vermelhas, não me disse uma palavra se quer. A música gritava L'AMORE! Jogou-a em meu colo e em frações de segundos lá estava ele rolando escada abaixo. Ascendi outro cigarro, e olhei para baixo, alguns mendigos que passavam pela rua se aproximara, mas o corpo estava inerte, o brilho fraco nos olhos do senhor que pela primeira e última vez vi, com toda certeza nunca mais iria ver novamente, ele havia se jogado e eu nem falei com ele antes, talvez convencesse do contrário, mas quem me impediria de jogar-me? Abri aquela caixa, e lá havia duas fotografias, uma o filho dele na guerra sorrindo e a outra, bem a outra estava o mesmo morto não sei descrever a situação, mas pude ver que lágrimas marcadas no rosto, acredito. Atrás estava escrito:- Uma vez confiei no que me disseram, e mentiram. Outra vez dei a minha vida para que eu provasse a verdade. Morri. Agora gostaria apenas de ter companhia. Tenho, mas sou solitário. Entrego-te tudo que tenho, para que entenda que nunca deves se colocar em provas, pois aqueles que não acreditam em ti é quem não te merece. Não te mates, esse é o meu último pedido em vida, lutes pelo que quer, mas não engane a ninguém, e se ninguém em vós acreditar, não te preocupes teu silêncio será tua verdade.Ah!... Hoje é só mais uma Quinta que antecede a Sexta-Feira, é só mais um dia que o sol nasceu amarelo...

Lúcio Vérnon®

OLHOS

OLHOS CASTANHOS
Olhos castanhos, longe olhando;
Um corpo solento sentado;
Uma sala, uma mesa e nada.
Porta fechada; e a janela fechada.
Olhos castanhos, olhos fechados e longes;
Imaginação, sublimação do momento; E um beijo longe de datas ocorridas;
E um suspiro tão profundo quanto abismo.
Olhos castanhos, castanhos favos exprecivos;
Voz firme, correta e certa, e confusa...
Coração que palpita ao sentir as palavras...
Mão que vacila o toque naciturno do amante.
Olhos castanhos, luz tênue ocular quietos.
Mãos finas, corpo grande, lábios doces;
Momentos gentís, felizes, tristes pequenos.
Outros olhos castanhos em eterna espera.
Dois olhos castanhos, trêmulos e trépidos,
E falantes, e ouvintes, e esquecidos no tempo.
Dois olhos castanhos de apenas uma história,
Encontrados e perdidos nos tempos rompidos.
Olhos castanhos; solitários, calados sozinhos.
Mãos que tremem à caneta, letras simples;
Coração que palpita a canção amante cantada,
Voz que falha tremida de um acrescimo visual.
Lúcio Vérnon®