Diálogo
Caneta
Escreve a mão trepida,
Caminhos em versos avessos,
Frase insensata, talvez corrompida
Por dores da alma e dos ossos.
Tinteiro
Lúcio Vérnon®
Diálogo
Caneta
Escreve a mão trepida,
Caminhos em versos avessos,
Frase insensata, talvez corrompida
Por dores da alma e dos ossos.
Tinteiro
Lúcio Vérnon®
Poetas III
Poetas não falam... Pena...
Poetas sentem, talvez sofrem...
Poetas são só poetas apenas...
Poetas descansam a fala de tudo...
E quando não se sabe realizar?
E quando só se aprende errando?
Poetas só sabem poetar... Pena...
Poetas só têm as letras tortas...
Poetas só sabem observar, escrever...
Poetas negam a existência do fato...
E quando julgam errado?
E quando não julgam...?
Poetas só sabem realmente poetar,
Poetas não sabem o que são!
Poetas são! E fogem sempre!
Poetas são amaldiçoados seres...
E quando tenta parar? E quando não sabe como?
Poetas são só problemas... Pena...
Dão trabalho, são inconstantes, cientes...
Poetas... Poetas nada são...
Sombra esquecida, luz tragada...
Lúcio Vérnon®
Minha Alma Medrosa
Minha alma hoje murmura o silêncio,
Sente o real, os acontecimentos por vir.
Deseja acordar e viver, e realizar...
Chora por não ser, por não poder ser.
Minha alma triste hoje, cala-se...
Teme, treme, ri, canta, recai em prantos,
Queria e não sabe como re-dizer...
A vontade é de sempre ser teu.
Minha alma calada ouvinte, chora novamente... Teme e escreve rimas pobres em poemas, Enrola o tempo sentado quieto, solitário, Percebe que aos poucos é só alma calada.
Carpete Vermelho
Medo no corpo, corpo caído, fraco? No quarto quieto medo do sono, da noite? Formas, sombras, sonho, pesadelos? Pessoas sentadas ao carpete vermelho?!
Lúcio Vérnon®
NOTURNAS CARÍCIAS
"Lá fora a lua intensa
brilha com uma luz plena."
Lúcio Vérnon
As nébulas desta noite
Cercam como a um filho;
Protege, acalanta, mima.
Guia como um farol a um navio;
Conduz a locais, de todo, desconhecidos.
Leva a um mundo utópico, ou real?
É doce as carícias da noite,
É suave se perder
LÚCIO VÉRNON GOIÂNIA- 126.05.06 ®
É hoje é mais uma Quinta que antecede a Sexta-Feira, hoje é só mais um dia que o sol nasceu amarelo, mas encoberto por nuvens cinza que logo se formará em gotas de chuva e cairá por sobre meu corpo como quem quisesse purificá-lo das aviltudes de pessoas, espíritos talvez, mau agouro quem sabe. Ah!... Hoje é só mais um dia onde a brisa brinca de embalar as folhinhas das árvores e das pequenas flores ao pé de um poste iluminado, é só mais um dia que a brisa faz o perfume exalar por sobre o pátio. É só mais um dia como qualquer outro, como qualquer outro dia é o meu dia de ficar só solitário, sentado em minha cadeira no quintal, brincando com a fumaça que sai de meu carrasco cigarro, é só mais um dia que meus cadernos recebem mais uma dose amarga de poemas meus, com todo um sentimentalismo extravagante de pobreza, de falta de companhia. Ah! É só mais um dia que fazendo as contas passa-se de uma semana que me vi no alto de uma escada desejando jogar-me ao azar de sobreviver ou a sorte de finalmente encontrar-me num plano onde finalmente possa eu ser feliz. Já faz uma semana, uma semana que na beira daquela escada sentei-me no último dos degraus, ascendi mais um de meus cigarros e sem pensar em nada, queria apenas sentir o gosto pesado da fumaça passando por minha boca, chegando até os pulmões e retornando em círculos pequenos, hora grandes e finos. Quase inaudível tocava na casa de um senhor que estava à janela, uma música: Miss Sarajevo, estava na parte em italiano, e comecei a imaginar todo o sofrimento de um pai que perdera seus filhos na guerra, olhava o rosto do senhor e via uma lágrima que rolava devagar, como quem soubesse o que eu sentia naquele momento, e o meu desejo; fitava-me e eu a ele, era como se pudesse ver o filho dele, era como se ele despedisse de mim. Ele entrou para algum dos cômodos da casa, fechei os olhos tentando me tranqüilizar, e agora só ouvia a música que se repetia e repetia, e repetia em uma oração espiritual para que não me jogasse, uma oração ao Deus para que tivesse pena de mim talvez.Olhos fechados, e ouvindo a música que repetia, agora também ouvia as ondas se quebrando no mar, estavam cálidas, parecia também sentir minha dor, os passos começaram a se intensificar, olhei, o senhor estava sentando-se ao meu lado com uma caixa antiga, com apenas números em sua frente. 1914 estava em preto com gotas vermelhas, não me disse uma palavra se quer. A música gritava L'AMORE! Jogou-a em meu colo e em frações de segundos lá estava ele rolando escada abaixo. Ascendi outro cigarro, e olhei para baixo, alguns mendigos que passavam pela rua se aproximara, mas o corpo estava inerte, o brilho fraco nos olhos do senhor que pela primeira e última vez vi, com toda certeza nunca mais iria ver novamente, ele havia se jogado e eu nem falei com ele antes, talvez convencesse do contrário, mas quem me impediria de jogar-me? Abri aquela caixa, e lá havia duas fotografias, uma o filho dele na guerra sorrindo e a outra, bem a outra estava o mesmo morto não sei descrever a situação, mas pude ver que lágrimas marcadas no rosto, acredito. Atrás estava escrito:- Uma vez confiei no que me disseram, e mentiram. Outra vez dei a minha vida para que eu provasse a verdade. Morri. Agora gostaria apenas de ter companhia. Tenho, mas sou solitário. Entrego-te tudo que tenho, para que entenda que nunca deves se colocar em provas, pois aqueles que não acreditam em ti é quem não te merece. Não te mates, esse é o meu último pedido em vida, lutes pelo que quer, mas não engane a ninguém, e se ninguém em vós acreditar, não te preocupes teu silêncio será tua verdade.Ah!... Hoje é só mais uma Quinta que antecede a Sexta-Feira, é só mais um dia que o sol nasceu amarelo...
Lúcio Vérnon®