segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sentido




Teu olhar é de pena, poeta,
teu brilho é puro fosco,
o cheiro que inebria é insosso,
voz trêmula, inexata, incoerente.

Você é de pura incompreensão,
parado, ao nada, e escreve...
Escreve a alma, os sentidos.
É só o que sabe? Não sentes?

Teu sorriso é sem graça, poeta,
teu desejo é a embriaguez de esquecimento.
A pele já anuncia o toque sem excitação...
O que vê, poeta, que nós ainda não?

-"Repetições de fatos não ocorridos...
Suspiros ao ver meus sentidos esvaindo-se
como aroma de dama da noite ao vento,
esperando em vão que alguém veja minh'alma."

Lúcio Vernon

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Camila




Não sei fazer joguinhos...
Pareço até menina de 12 anos
descobrindo agora os sentimentos.
O que devo fazer? Mentir?

Mais um sorriso disfarçado
e lágrimas por dentro de meu rosto
já marcado e que até desconheço...
Desculpe se for incômodo ouvir.

Não entendo esses joguinhos...
Não deveria ser simples?
O sentimento supera a razão.
E a vontade...? Essa nunca se foi.

Outra vez a insônia me acalanta,
o desejo faz transpirar-me deitada,
enquanto balbucio sentimentalidades
esperando em vão que ouças e venha...

Lúcio Vérnon

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Litoral de Acácias






Os traços ascendem, sussurram versos
e conjugam-os em pretérito perfeito.
Não há futuro para o que se foi,
não há presente pro o que há de vir...

Outra vez é alta a noite...
A brisa canta teu nome, e acaricia
curvas tênues de sedutora maciez,
enquanto de olhos curvados, sonho...

Faz silêncio agora... A rede balança.
É pleno o ser nos braços da memória...
E toco teu corpo em desejos impuros,
o vento sopra... Teus lábios agora em mim.

Já é tarde, no desejo ainda não há tempo...
- Tempo é mero acaso de segundos não contados.
Os traços ascendem, Sussurram teu nome,
e ondas de prazer embalam-me em teus toques.

Lúcio Vérnon

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um Vadio




Era desejo no olhar do vadio,
um filme de histórias em pausas.
Vacilava nos gestos, palavras,
perdia-se em tácito assédio.

Outra vez era precipitação,
enquanto esquecia do próprio ser.
Teu corpo hesitava em receio;
e em observação, a morena, sorria.

Era desejo no olhar do vadio.
parecia esperar o momento,
"Queria sentir o brilho dos lábios
rosados e de tua pele, moreninha..."

Outra vez era como escrever versos
já entregues em papéis brancos.
O simples tocar em abraço, moreninha,
era como reviver momentos não passados.

Lúcio Vérnon

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Calos




Os dedos calejados
já não sentem mais a pele,
a verdade outrora
e as conversas insônes...

Quem poderá mostrar o caminho?
O desejo de um igual.
Retirar a máscara e ver teu rosto.
Sorri, e fazer rir do simples.

Os dedos calejados,
calejam também a face,
que desfaz em momentos
e transfigura as vontades.

Quem irá tocar teu corpo
enquanto música?
sussurrar tuas curvas
em versos sem rimas?

Os dedos calejados,
calejam também a crença,
os sentidos, e as letras.
Talvez a própria verdade.

Quem irá sentir teu cheiro,
e o desejo lascivo de posse?
Quem sentirá a vantagem
de possuir o teu ser?

Lúcio Vérnon 
 @Camila Tápia.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Pressa




- "Vê se não vai demorar..."
Apressado, sempre apressado,
o ímpeto provoca o tempo
que provoca o corpo, e sonha...

Não foi como olhar o desconhecido,
nos braços haviam letras como poemas,
Nos olhos, marcas de um passado superado,
- Sim, seu olhar encanta...

A noite curta, o desejo longo.
A música era alta e a proximidade
fazia vibrar o peito disforme
e inflado da pressa irracional.

Sorria, sempre sorria,
os olhos desenhavam arcos,
e a face iluminava os sentidos
enquanto acalmava a companhia...

- "Vê se não vai demorar..."
o tempo provoca a razão,
enquanto o sentimento anseia.
- Sim, seu olhar encanta...

Lúcio Vérnon 

sábado, 5 de maio de 2012

Ser



E já não sei quem sou...
O caminho faz curvas,
não encontro as tuas...
- Teus olhos, reluzem?

Não quero ser quem sou,
o peito grita, os olhos calam
e ainda não ouço a tua voz...
- Tua face, acalma?

Me perco em quem sou,
os pensamentos perpassam,
e a imaginação realiza o tempo...
- Quantas vidas você tem?

E só quero ter o que sou...
Procuro semelhança,
formas como as tuas...
- Teu sorriso, encanta?


Lúcio Vérnon

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Papel



Descansa em branco a única amante,
cantos e contos não caem sobre o corpo,
os toques e os traços trepidam vacilantes
à lágrima esguia no soluçante porto.

Brilham, em negro céu, estrelas de escorpião,
e a amante perdura em conversas torpes,
os assuntos são transitórios de apenas paixão,
e o poeta só deseja, da lésbica, os suaves toques.

Descansa em branco a primeira amante,
aguardando talvez os despojos escritos,
de palavras colhidas em momentos pendantes,
e assuntos mergulhados nos tempos esquecidos.

Lúcio Vérnon.