sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Solfejo em Lá




Solfejo lágrimas insensatas em Lá menor,
E a cada passo descansa o silêncio
que acomodo em meus lábios
desejando percorrer tuas curvas...

E solfejo saudades em Dó, Si e Lá,
notas que em descompasso ouriça 
lembranças que me fogem o controle
e que lascivamente traz-me o gozo.

Lúcio Vérnon

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Rosa




Desbotam palavras de lembranças coloridas,
enrijecem gestos de suave acalantar,
mãos distantes, sussurros inaudíveis,
desejos incautos de um sonhar translúcido.


- Era tons de prata quando anoiteceu, 
Dama da Noite perfumavam os cabelos.
- Eram carícias de momentos teus
que a mão esqueceu em tempos contados.


E bailas em giro enquanto caminhas,
e canta em silêncio em tons de rever,
rever a lua prata que agora se deita,
a rosa já pálida dissolve a cantar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Três

Três

Três pedaços... Caco no chão limpo.
Isolamento opcional, Mês incauto.
Risos e bares, hotéis e ruas...
Três pedaços... Caco de lágrima...

Pedaços e corpos... cama distante.
Significado criado, significa algo?
Pedaços de um estirado a crença...
Saber é péssimo, o não saber, imperdoável.

Perdão e pedaços... Sentimento transcedente.
Desejo incoerente, sentimentos seguros.
Outra vez... Outro tempo entre os ponteiros...
Quanto mais esperar? Segundos não contados...

Pedaços e três... Três é número do desequilíbrio.
vaidade interior em migalhas... Desapego de si...
E ainda há espera... Esperar o incerto...
- "Desejo que ainda haja amor para recomessar"...

Lúcio Vérnon

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Púlpito




Púlpito

E como escrever mais um poema?
se todos já foram escritos
por outras, ou minhas mãos...
Meu coração como em púlpito palpita.

Minha visão ainda é a mesma
sobre um futuro não vindouro.
E a lua outra vez é cheia,
enquanto deita-se a noite.

E como escrever mais um poema?
Minhas rimas já não existem,
apesar de nunca rimarem.
Meu coração como em púlpito palpita.

Palpites nem sempre são esperados,
Quanto tempo hei de passar aqui?
O tempo não importa, quando nos importamos,
e nada se vai, quando tudo já não mais é.

Como escrever mais um poema?
O sonhos ainda são bons,
a realidade nem sempre, mas é a verdade.
Meu coração como em púlpito palpita.

Lúcio Vérnon

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Homem de Lata


Homem de Lata

Só mais um corpo de lata,
apenas silêncio no peito.
Razões irracionais, temporais,
- poeta sente como pedra.

O corpo enferruja ao tempo,
também as lembranças se vão,
- quando juramos eternidade?
A lataria reclama à saudade.

Os passos metalizados ecoam,
o corpo já não sente os toques.
Silêncio no peito, na alma.
Esquecimento, felicidade inalcançada.

Lúcio Vérnon

domingo, 8 de maio de 2011

Outra vez



Outra vez

E de tanto ensaiar versos,
palavras em deriva do passado,
falta-lhe o fôlego e suspira
pleno da certeza do que deseja...

- Já não tens o mesmo tempo,
e já mudou as formas, corpos...
se foi palavras e voltou saudades.
-"Queria estar com a lua nesse tempo"...

E de tanto ensaiar falas...
A voz emudeceu quanto aos gestos
que esvaiam-se como miragem
de algo sonhado em mundos paralelos...

- A calma transcende a vontade,
verdades escondidas nos olhos,
enquanto em sorrisos o mundo está
-"E só se é em união..."

Lúcio Vérnon


Ps.: À uma conversa entre dois irmãos
 (ou podemos dizer a nós)

domingo, 27 de março de 2011

Rosa Escarlate



Rosa Escarlate

E perdendo a cor
desaparece no ar,
como recordações
de algo intocável...

- Arde em chamas
um símbolo de rosa
cercada em meu peito
por espinhos metálicos...

Quão distante está o desejo?
mais uma noite cai, lua alta.
Sigo as pegadas de meu caminho,
me desfaço em teu sentido.

- Abrasa-se meus olhos
enquanto rejeito o passado,
de qual espada de dois fios
amputa o próprio senhor.

E esquecendo-se do tom,
notas estridentes ecoam
perturbadoramente sonhos
ausentes de tua presença.

- Queimo-me o corpo
enquanto das cinzas
nada renasce, uma vela
trepida enquanto me fecho.

Lúcio Vérnon

domingo, 13 de março de 2011

Escorpião


Escorpião

Desejo de ti a picada,
teu mel viçoso
correndo em minha veia,
saciando a cobiça de um suave tocar.

Desejo de ti o perigo,
tua essência
esvaindo o meu corpo
embalando-o em prazer...

Desejo o teu toque
na crua carne,
mesmo que em segundos
a realidade se desfaça.

E desejo-te por cima
enquanto deito meu corpo
entregando-o ardente,
prazendo-me de teu veneno.

Lúcio Vérnon

quinta-feira, 10 de março de 2011

Suicídio



Suicídio

Sorriso atrofiado,
Humor em doses apáticas,
inconstância de pensamentos,
Sentimentos na lixeira...

- E tudo não passou de ilusão...
todos os risos, olhares, carícias;
talvez palavras. Máscara de ilusões.
E agora é tão difícil continuar...

Um passo de cada vez,
um dia após o outro,
nenhum momento retorna,
só as lembranças choram.

- Esvai-se todos os toques,
como poeira ao vento,
E lembranças não são esquecidas
como deveriam. Muito difícil continuar.

Um poema após o outro...
Um poeta abdicando de ser.
 Um homem desejando sair.
- Já não quero continuar.

Lúcio Vérnon

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ampulheta


Ampulheta                                                                                                        
 "O tempo é mero acaso de
segundos não contados"      
(Lúcio Vérnon)
A areia escorrega pelo vidro,
as estrelas descem,
mais uma manhã renasce
e sobrevoa a vida como pássaro.

A poeira baixa, e uma gota de chuva
cai por sobre a roupa
que encharca enquanto caminha
numa direção que não há trilhas...

E teu rosto parece de um anjo,
quando sorris enternecida.
A areia escorrega pelo vidro.
E não há mais. Só palavras e versos.

E versos nem sempre dizem tudo...
Olham-se, há distância, e silêncio...
A areia escorrega pelo vidro,
e uma lágrima escorre pelo rosto

já pálido, e cansado, e descrente...
Mais uma manhã nasce,
teu rosto ainda é de anjo,
Mas teu corpo já cansado.

Lúcio Vérnon
"Dedicado a uma amiga que casaria 
se fosse love-me tender a música,
e que sofreu por algo ultimamente."

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Lágrima de sonho



Lágrima de sonho

Vejo formas que passam
e desejo tocar;
formas que me embalam,
e que não são tuas....

Sinto mãos e sinto toques,
e que talvez deseje;
sinto o titubear do peito,
porém, não é o teu...

E beijo o agreste lábio,
sem sentir o gosto;
lábios também macios,
mas que não são seus...

Durmo ao colo, sonho talvez,
me transporto sem sair;
sonho de morena e lua, e rio,
e estás ali parada, eu longe...

Lúcio Vérnon

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mão torpe



Mão torpe

Minha mão torpe, ainda escreve,
trepida junto ao peito,
que de lembranças
solfeja, para não sofrer...

E já posso me sentir bem,
as névoas passaram,
e são nos teus olhos
que me transformo...

Minha mão torpe, ainda teima...
E desliza palavras humildes
em vez de ações soberbas,
mas talvez não menos egoístas...

E já posso me sentir bem,
Mas ainda falta algo...
E são nos teus toques
que me acalmo...

Minha mão torpe, não quer descansar,
Junta-se ao desejo silenciosa,
Sonha e reza, e vaga a noite
enquanto talvez já dormes...

E já posso me sentir bem,
desencarnado de quietude...
E estar ao seu lado
Me leva a quem sou na realidade.

Lúcio Vérnon

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Poesia Re-Sentida


Poesia Re-Sentida
"Se eu respeito... Por que me sinto triste? 
Me perdoe se eu chorar. "
Lúcio Vérnon
Talvez a poesia precise do não,
que balança as palavras e some...
Talvez a poesia precise sofrer
no momento em que mais se doa...

- Um assobio cantarola na lembrança,
e mais um verso choroso ressalta,
tomando-lhe o papel como confidente,
e lenço, que lhe enxuga o peito...

Talvez a poesia precise do sentimento
como chuva de verão que numa bela
tarde, enquanto as flores pedem mais,
ela dá seu adeus numa suave delicadeza.

- E humanamente erros acontecem...
O que seria ilusão, quando tudo pode-se tocar?
E em quanto tempo um ponto vira reticências?
E de quantas certezas se faz um sentimento?

Talvez a poesia precisa chorar,
Principalmente quando ela mais sorri...
Talvez a poesia precise pisar no chão,
quando mais se quer voar...

Lúcio Vérnon.

Ps: Uma música alegre as vezes mostra a intensidade da dor...
Ps²: Uma vez um Peregrino disse: "nem todas as feridas me recuarão,  nem toda a dor me fará desistir." Nada Mudou!  

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Numa rede...




Numa rede...

Chão de terra, terra molhada...
rios e flores, céu estrelado...
Uma rede; e teus cabelos embalados,
uma mão por sobre tua tez
e uma rosa ao seios...

Vestes brancas, olhos fechados...
toma-te do colo a cama...
e sorris ao deslizar da mão
que desenha-lhe face à nuca,
e lhe beija os lábios enquanto dormes...

A lua lhe prateia a pele morena,
e como num sonho realça tuas formas,
enquanto abres os olhos e vês outros castanhos,
como que incrédulo de tua presença...

Teu perfume mistura com os das flores,
enquanto abraçados, silenciam as falas,
e se tocam como a pena mais suave,
e dormem incautos de desejos...

Lúcio Vérnon